2010-09-27, in Ciência Hoje
Uma experiência realizada no Laboratório de Biologia Molecular, em Cambridge, mostrou que material genético sumário poderia reproduzir-se eficazmente na mistura de água com gelo, em equilíbrio. Este novo argumento está a favor do facto de a vida ter aparecido “no frio”.
A hipótese foi testada por James Attwater e publicada na «Nature Communications». Segundo o estudo, as pequenas bolhas de água que o gelo contém são um meio propício para a vida começar e facilitam a reprodução exacta do material genético primordial.
Este cenário não é completamente novo. No final dos anos 90, alguns cientistas chegaram à conclusão de que o clima da Terra primitiva era provavelmente mais temperado daquilo que se pensava e compatível com a presença de grandes quantidades de gelo. A possibilidade avançada por Attwater explica a aparição de constituintes elementares do material genético (RNA ou DNA), bastante instável, quando submetido a altas temperaturas. O início de vida próxima de fontes hidrotermais sulfúricas situadas na dorsal oceânica parecia complicado, por esta razão.
O RNA é o intermediário na transferência de informação entre o DNA e a proteína. Desde há 25 anos, parte da comunidade científica acredita que esta molécula é a primeira a ter aparecido e mesmo antes da origem da vida. Já o Nobel da Química, Walter Gilbert, admitiu esta possibilidade num artigo publicado na «Nature», em 1986. O facto é que o RNA é capaz de se reproduzir sozinho, sem a ajuda de proteínas complexas – o que supõe que poderia perfeitamente ter sido a primeira forma de vida.
Os recentes estudos dos investigadores de Cambridge reforçam a teoria. Attwater demonstrou que uma forma de RNA bastante simples é capaz de se reproduzir na água a zero graus centigrados e que o processo, apesar de lento, é bastante eficaz a longo-termo e assim, o RNA replicado é estável. As microbolhas de água protegem o material genético mais frágil, um pouco como as células.
Estudos de 2004 já tinham demonstrado que blocos elementares se ligam naturalmente para formar o RNA a estas temperaturas. Com isto, os cientistas britânicos começam a obter uma teoria cada vez mais sólida, em relação à aparição de vida “no frio”. Contudo, falta ainda demonstrar que estes blocos se consigam formar a temperaturas tão baixas. Mas, se este cenário se confirmar, as próximas décadas poderão ser uma verdadeira revolução, para investigar vida extraterrestre, já que o gelo é omnipresente no universo.
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